quarta-feira, 20 de abril de 2016

Miniaturista, Jessie Burton


Título: Miniaturista
Título Original: The Miniaturist
Escritora: Jessie Burton (Inglaterra)
Ano de Publicação: 2014
Editora: Intrínseca
Páginas: 352
Gênero: Romance Histórico/Mistério
Nota: ♥ ♥ 

Onde: Amsterdã, Holanda

Quando: Século XVII (1686 a 1687) 

Contexto Histórico: Uma sociedade protestante calvinista extremamente repressora, que limita ao máximo a liberdade de seus cidadãos e incentiva que um vizinho espione os outros. O comércio floresce e os mais hábeis negociadores são também os mais ricos. Guildas controlam o comércio de algumas mercadorias, enquanto outras, como o açúcar e a seda, são de livre circulação, permitindo altos lucros para aqueles dispostos a viajar vendendo seus produtos. As rotas comerciais alcançam toda a Europa, a Ásia e a África. Não há espaço nessa sociedade para mulheres, homossexuais, pobres ou estrangeiros, especialmente se negros. 

Sobre o que é: Petronella Oortman, proveniente de uma família nobre, mas empobrecida, é dada em casamento a Johannes Brandt, um rico comerciante de Amsterdã. Não demora muito até que ela perceba a hostilidade dos habitantes de sua nova casa: a cunhada, Marin, é fria e frequentemente cruel, os empregados são indiferentes e o marido nunca está por perto. A única distração de Nella parece ser mobiliar uma casa de bonecas que ganhou como presente de casamento. O problema é que o miniaturista a quem encomendou os itens parece enviar alguns deles sem que ela os tenha pedido, junto com misteriosos bilhetes. E como esse miniaturista conhece tantos detalhes sobre a casa e seus moradores?

Características/Personagens/Estilo Narrativo: Miniaturista é um livro de atmosfera melancólica, sufocante e misteriosa. O inverno rigoroso e escuro, agravado pelos canais enregelados que atravessam toda cidade de Amsterdã, acompanha os personagens durante toda a história, mantendo-os confinados aos espaços privados e escondendo seus segredos e infelicidades.

Jessie Burton evidencia com sua obra a opressão daquela época. Seus personagens, aprisionados a papeis sociais limitadores, ainda que tentem manter as aparências, estão sufocando, incapazes de vir à tona, sendo inclusive frequentes no livro alusões a afogamentos e submersões. Nem mesmo o dinheiro parece ser uma proteção confiável nessa sociedade em que o único destino da mulher parece ser o casamento, o único destino do negro parece ser a escravidão e o único destino do pobre parece ser a servidão. Até mesmos dos homens se exige a heterossexualidade e a submissão aos ditames da Igreja Calvinista.  

Há alguns elementos fantásticos no livro, concentrados na figura do miniaturista, mas seu foco é o pensamento e a realidade de uma época, ficando evidente na escrita elegante e detalhada de Jessie Burton a extensa pesquisa histórica feita. A casa de bonecas que aparece na capa está inclusive em um museu na Holanda e realmente pertenceu a uma mulher chamada Petronella Oortman. Todo o resto, porém, é ficção.

Resumindo: Apesar de Miniaturista vir agradando muitos leitores ao redor de todo o mundo e ter ganho importantes prêmios literários, infelizmente não posso afirmar que essa leitura tenha me arrebatado. Os personagens, todos eles extremamente infelizes, me pareceram antipáticos ou desinteressantes, especialmente a protagonista. Os diálogos e as tramas envolvendo o comércio me pareceram excessivos e entediantes. E o mistério do miniaturista revela-se uma grande decepção. 

E o maior de todos os defeitos do livro, ao menos para mim, é a escritora ter feito um perfeito retrato de uma sociedade conservadora e religiosa do Século XVII, ter escolhido uma protagonista ingênua de apenas dezoito anos, e ainda assim ter dado a ela a mentalidade de uma cosmopolita jovem do Século XXI, que aceita comportamentos revolucionários e discrepantes dos padrões morais e religiosos com uma assombrosa naturalidade. Teria sido bem mais convincente se Nella fosse uma viajante do tempo.



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